segunda-feira, 17 de novembro de 2008

"Analisando o Analista"


Toda terça feira era dia de terapia. Fazia uns dois anos já que ela ia. Toda terça. Passava o final de semana em ócio, e tempo suficiente para pensar o que vivera na semana, tinha segunda feira para colocar como certeza as noções e os insigths que teve durante os dois dias de folga. Já nem sabia se eram abençoados ou malditos o tal sábado e domingo. Chegava segunda noite, um nervosismo inconsciente tomava conta do corpo, do pensamento e do ambiente todo. Seu companheiro, que morava junto, sentia, sabia e, quando o clima era de um silêncio incomodo, ela ouvia a pergunta que esperava: “Já sabe o que vai dizer ao Ricardo amanhã?”, (o psicólogo),e a partir disso, a conversa se desenrolava horas. Segundas feiras era o dia o qual ambos permitiam-se ficar até mais tarde acordados, “amanhã tem Ricardo”.
Era difícil saber o que dizer a Ricardo, pensava durante a segunda feira inteira, desde o acordar, pensava e pensava o que é que no momento lhe incomodava, o que é que no momento havia descoberto, o que não saberá lidar , a que ponto estava na vida. Como falar sobre isso, como começar. Já prever o que ele vai falar. Já prever o que vai sentir, pra quem sabe assim, se iludir que vai amenizar.
Era difícil falar as coisas a Ricardo, ele não era mais um dos amigos dela. Ele não daria a opinião contorcida pela própria personalidade e mania. Ele não a julgaria expondo seus defeitos. Ele não tem nenhum interesse sem ser em fazer com que ela perceba o que sente. Ele não ganha nada em troca. O que acontece, é que ele fica em silêncio, apenas olhando pra ela e pensando, e como vê nele crítica e momento de afirmação nas coisas que diz, nesta espera pela resposta, o nervosismo ou a ansiedade transformam o julgamento que ela dá aos pensamentos dele, na sua própria resposta.Afinal, se ela mesma achou que ele ia “achar” isso ou aquilo sobre o que ela disse, era porque, na verdade, era exatamente o que ELA mesmo estava pensando a respeito do que disse/pensou. Sendo assim, nada mais do que sua auto crítica, aflorada pela presença de seu analista.

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